Técnicas e
Afinações
O cavaquinho geralmente toca-se rasgado com os quatro dedos menores da mão direita, ou apenas com o polegar e o
indicador como instrumento harmónico. No entanto, um bom instrumentista executa
a parte cantante destacada do rasgado com os dedos menores da mão esquerda sobre
as cordas agudas, ao mesmo tempo que as cordas graves fazem o acompanhamento em
acordes. Trata-se de um instrumento com um grande número de afinações que, tal
como no caso da viola, variam conforme as terras, as formas tradicionais e até
os tocadores. Porém, geralmente e para tocar em conjunto, o cavaquinho afina
pela viola com a corda mais aguda colocada na máxima altura aguda possível. A
sua afinação natural parece ser ré-sol-si-ré (do grave para o agudo), mas usa-se também sol-sol-si-ré (ou lá-lá-dó #-mi,
do grave para o agudo).
Origem
A origem do cavaquinho é
duvidosa. Gonçalo Sampaio, que explica a sobrevivência de modos arcaicos e
helénicos na música minhota à luz de possíveis influências gregas (ou ligures)
exercidas sobre os primitivos calaicos daquela Província, acentua a relação
existente entre o cavaquinho e os tetracórdios e sistemas helénicos, sendo de
opinião que ele, a par da viola, terá eventualmente vindo para Braga por
intermédio dos biscaínhos. De facto, existe em Espanha um instrumento semelhante
ao cavaquinho, da família das guitarras - o requinto - de quatro cordas, braço raso com o tampo e dez trastos, que afina do grave
para o agudo (ré-lá-dó sustenido-mi). Jorge Dias parece também considerá-lo
vindo de Espanha, onde também se encontra em termos idênticos a guitarra,
guitarrón ou guitarrico, como o chitarrino italiano. E
acrescenta ainda: « sem poder precisar a data da sua introdução, temos que
reconhecer que o cavaquinho encontrou no Minho um acolhimento invulgar, como
consequência da predisposição do temperamento musical do povo pelas canções
vivas e alegres e pelas danças movimentadas ... O cavaquinho, como instrumento
de ritmo e harmonia, com o seu tom vibrante e saltitante é, como poucos, próprio
para acompanhar viras, chulas, malhões, canas-verdes, verdegares, prins».
Cavaquinho de
Lisboa
O cavaquinho de Lisboa, é semelhante ao minhoto pelo seu aspecto geral,
dimensões e tipo de encordoamento. Difere essencialmente deste pela escala que é
em ressalto, elevada em relação ao tampo, e pelo seu número de dezassete trastos.
O cavalete difere do dos cavaquinhos minhotos, tratando-se de uma espessa régua
linear com um rasgo horizontal escavado a meio onde a corda prende por um nó
corredio.
O cavaquinho parece ser aqui um instrumento de tuna com carácter urbano e
sobretudo burguês que, em meados do século XIX, os mestres de dança da cidade
terão certamente utilizado nas suas lições, sendo ocasionalmente tocado por
intérpretes femininos. Toca-se pontiado com plectro, tal como os instrumentos
desse género do tipo dos bandolins, produzindo-se tremolo sobre cada corda.
Enfim, em certos casos aliás pouco frequentes, um instrumento parecido com o
cavaquinho pelo seu formato geral e dimensões - mas com um número superior de
cordas e um braço mais largo - leva também o nome de cavaquinho, embora
não partilhe com ele a mesma estirpe e natureza.
Algarve
No Algarve
conhece-se igualmente o cavaquinho como instrumento de tuna - «a solo ou com
bandolins, violas (violões), guitarras e outros » - de uso similar ao de
Lisboa: urbano, popular ou burguês, para estudantinas, serenatas, etc.
Ilha de Madeira
Na ilha da Madeira existe também o correspondente destes cordofones com os nomes
de braguinha, braga, machete, machete de braga ou cavaquinho. O braguinha tem as mesmas dimensões e número de cordas
dos cavaquinhos continentais, possuindo a forma e as características do
cavaquinho de Lisboa. O encordoamento parece ser de tripa, mas o uso popular
substitui geralmente a primeira corda por fio de aço cru e a sua afinação é
ré-sol-si-ré, do grave para o agudo.
Relativamente ao seu contexto social, o braguinha madeirense desempenha
uma função dupla. Pode apresentar-se como instrumento de nítido carácter
popular, próprio do «vilão», rítmico e harmónico, para acompanhamento,
tocando-se rasgado. Ou surgir como instrumento urbano, citadino e burguês, de
tuna, melódico e apresentando-se enquanto único elemento cantante madeirense.
Toca-se pontiado com palheta ou , preferencialmente, com a unha do polegar
direito em jeito de plectro, alternando com rufos ou acordes dados com os
dedos anelar, médio e indicador. Morfológicamente idênticos, o instrumento rural
é extremamente rústico e pobre, enquanto que o burguês e citadino é geralmente
de uma feitura esmerada, em madeiras de luxo e com embutidos.
Açores
O Dicionário Musical de
Ernesto Vieira e o Grove’s Dictionary of Music mencionam a presença do
cavaquinho nos Açores (Prainha do Norte, Ilha do Pico) existindo ainda notícia da sua presença no
Faial, nomeadamente na ilha dos Flamengos, perto da Horta. |